domingo, 1 de maio de 2011

João Paulo II: o conservador que revolucionou a Igreja


CIDADE DO VATICANO — O Papa João Paulo II (1920-2005), beatificado neste domingo pelo sucessor Bento XVI, foi um líder religioso muito reverenciado como um dos responsáveis pela ruína do comunismo no Leste Europeu, mas há quem afirme que tenha afastado muitos católicos, com uma visão social conservadora.
Primeiro Papa não italiano em mais de 400 anos, e primeiro do Leste Europeu, o polonês Karol Wojtyla era muito popular, evitando a pompa que cercou seus antecessores e buscando contato com pessoas comuns.
A partir deste domingo ele é o mais novo beato dos mais de 1,1 bilhão de católicos em todo o mundo, posto que o coloca no caminho da santificação.
Suas viagens o levaram a 129 países, onde defendeu a paz, denunciou o desrespeito aos direitos humanos e lamentou a decadência do mundo moderno.
Ele deixou um de seus atos mais memoráveis para o ocaso de seu pontificado - uma tentativa de purificar a alma da Igreja Católica Romana com um pedido de desculpas para varrer os pecados e erros cometidos durante seus 2.000 anos de existência, evocando implicitamente as Cruzadas, a Inquisição e o Holocausto.
João Paulo II nasceu em uma pequena cidade perto da Cracóvia, no sul da Polônia, em 18 de maio de 1920. Sua mãe morreu quando ele tinha oito anos e seu pai o criou, dando aulas de alemão e ensinando o filho a jogar futebol.
Ele estudou na Universidade Jaguelônica, na Cracóvia, onde ficou fascinado por teatro e escreveu algumas peças.
João Paulo nunca foi membro da resistência polonesa, mas a experiência da guerra levou-o a optar pela vida religiosa.
Ele se tornou pároco e ascendeu rapidamente na hierarquia da Igreja, chegando a cardeal.
Quando foi eleito Papa, em outubro de 1978, João Paulo tinha 58 anos; era um homem de porte atlético que não estava entre os maiores nomes da vasta burocracia da Santa Sé.
Sua primeira visita ao exterior foi à Polônia natal, inaugurando uma era de viagens pelo mundo que durou 27 anos com sua marca registrada de se ajoelhar para beijar o chão na chegada a cada novo destino.
Apesar das advertências dos soviéticos, as autoridades comunistas não foram capazes de impedir a visita do Papa em 1979, quando apareceu diante de mais de um milhão de pessoas que clamavam respeito aos direitos humanos.
O valor simbólico da visita foi imenso, revigorando o movimento anticomunista e levando ao nascimento do sindicato Solidariedade, um movimento de trabalhadores de oposição, dentro da Cortina de Ferro que se estendia na Europa Central e no Leste Europeu.
Com sua imensa popularidade, o Papa afastou muitos católicos por meio de seus ensinamentos morais - principalmente relacionados aos valores familiares, ao sexo fora do casamento, à homossexualidade, ao controle de natalidade, à eutanásia e ao aborto.
Reformistas, congregações jovens e do Terceiro Mundo, que enfrentava a propagação devastadora da Aids, ficaram cada vez mais desapontados com sua recusa em ceder na questão dos métodos contraceptivos. Na América Latina também provocou polêmica sua campanha contra a Teologia da Libertação.
Afetada pelo escândalo de padres pedófilos, o Papa, a pedido dos bispos americanos, aprovou novas medidas para punir padres que cometessem abusos sexuais.
Em 1981, ele esteve perto da morte quando o extremista turco Mehmet Ali Agca tentou matá-lo, com um tiro à queima-roupa na Praça São Pedro. Uma bala entrou em seu abdômen e outra quase acertou seu coração.
Os motivos por trás da tentativa de assassinato nunca ficaram claros: teorias da conspiração incluindo o serviço secreto búlgaro so
b as ordens da KGB e uma tentativa de radicais islâmicos de matar o mais proeminente líder cristão foram citadas.
O Papa disse que a Virgem Maria salvou sua vida e inseriu uma das balas em uma coroa cravejada de diamantes da Virgem de Fátima, em Portugal.
Ele se reuniu com cada grande líder de Estado ou Governo.
Os Estados Unidos, a União Soviética e, depois, a Rússia, os países do antigo bloco soviético, o México, Israel, a Jordânia e a Organização pela Libertação da Palestina estabeleceram relações diplomáticas com o Vaticano durante o seu pontificado.
João Paulo foi o primeiro Papa a rezar em uma sinagoga, em Roma; o primeiro a entrar em uma mesquita em um país islâmico, em Damasco, Síria; e o primeiro a presidir um encontro de líderes das maiores religiões mundiais, em 1986.
João Paulo II sofreu com vários problemas de saúde nos anos 1990, incluindo uma cirurgia para a retirada de um tumor benigno intestinal, um ombro fraturado, uma fratura no fêmur e o Mal de Parkinson, que o deixou muito debilitado.
Karol Wojtyla morreu aos 84 anos, em 2 de abril de 2005.